a mim sim... e muito.
"já nada me surpreende" é o que dizem os minhas tias, primas, avós quando me veêm e quando falamos de assuntos mais profundos como a guerra no líbano, a situação na palestina, a fome, a sida, até simplesmente sobre divórcios, etc... mas eu respondo sempre "eu sim... sempre".
quando era mais pequenina diziam que me surpreendia porque andava sempre nas nuvens, e quando descia á terra, mais precisamente nas refeições, ficava sempre muito surpresa com o que ouvia. nem notícias, nem cusquices eram para mim, não me interessavam nem fazia questão que me incluíssem nas conversas.
mas agora... confesso que ando mais atenta, mais curiosa, não passo sem jornais, revistas, reportagens, crónicas, comentários, blogs, sites e tudo, e tudo e tudo (roinc!)... continuo sem querer saber dos divórcios, nem das traições, ou filhos nascidos fora dos casamentos, nem de casas novas maiores ou mais pequenas, nem se alguém é gay ou se prefere boxers ou slips!... hoje em dia reparo nos sorrisos, nos olhinhos das tias que são avós pela 1° vez, nos primos que se apaixonam, na pele das mãos das avós, do abraço dos tios, na voz do primo mais velho cheio de pena por já não poder pegar-me ao colo e atirar-me para a piscina, no som da igreja da aldeia que junta no seu interior uma família que se despede que um pedaço seu.
no meio de tanto detalhe, de tanta visão diferente de ver o mundo... reparo na avó Madalena... e pela 1°vez, depois de 10 anos sem conseguirmos conversar, olhou-me e transmitiu-me sinceridade. quando o meu avô Mateus faleceu deixando-nos todas mais sozinhas, deixou as suas 5 meninas (mulher, filhas e netas)... eu e a minha avó acabamos por deixar que essa tristeza se transformasse em algo mais profundo que magoa...
hoje olhei... hoje toquei... hoje senti que tudo o que me diz já não pode magoar... hoje o sorriso foi sincero, o toque das nossas mãos foi genuíno e o abraço foi de saudades...
no dia em que nos despedimos do tio Manuel não posso deixar de sorrir imaginando que os 11 irmãos do avô Mateus se vão juntando aos poucos no céu (onde estarão a preparar uma almoçarada daquelas!) e de pensar que não deixarei partir a minha avó em silêncio...
sim, eu sim surpreendo-me... sempre... e muito
soalheira 18.08.2006