quinta-feira, março 29, 2007
sábado, março 17, 2007
12.06.1991 - 17.03.2007
a tristeza é enorme... o choro quase incontrolável... e o vazio gigante... mesmo assim sabemos que lhe démos uma vida muito boa, com muitas regalias, e com imenso mimo.
foram quase 16 anos em que nos viu crescer todos, e por isso e muito mais agradecemos ter sido o gato melhor do mundo.
adeus...
Etiquetas: biscuit
sexta-feira, março 09, 2007
eu tinha 11 anos... e apaixonei-me por um gato
"o que queres para os anos?"
foi o que bastou para a minha irmã no ano dos seus 9 aninhos ter decidido por um animal de estimação... não sei bem como tudo aconteceu, lembro-me de estar na loja dos animais, lá na California, onde vivíamos a olhar para todas aquelas gaiolas, jaulas, etc... entre tantos animais fazia-me impressão todos os cachorrinhos, passarinhos, cobrinhas, ratinhos... e não gostar de nenhum, tinha pena deles, mas nem queria imaginar ter umas coisas daquelas em casa.
"quero um gato", acho que foi isto que ela disse, a Pipa achou que um gato seria melhor, a sua melhor amiga tinha um e talvez isso ajudasse á escolha... olhámos com dúvidas para aqueles dois gatinhos, irmãos de 4 mesinhos... ela não se decidia, escolheu o que tinha pelo mais curto... mas nem olhava para nós. eu comecei a brincar com eles com uma cana de pesca com um peixinho de borracha, mas o que ela queria nem se mexeu... impávido e sereno lá ficou no seu cantinho... mas o outro, aquela bolinha de pelo... esse fartou-se de brincar, saltava como um louco e adorou o peixinho... eu assustei-me, mas escolhi-o.
na altura vivíamos sózinhas com o meu pai... a minha mãe estava longe por uns tempos, e deve ter pensado num pet se calhar por querer dar-nos alguma responsabilidade, ou uma companhia, ou sei lá... a minha mãe não achou muita piada mas a "montes" de kms da distância não havia muito que pudesse fazer.
o gatinho chegou a nossa casa naquele mesmo dia da escolha demorada... chegou, procurou, cheirou, a fartou-se de correr pela casa... eu morria de medo... porque achava que a qualquer momento o gato saltava para cima de mim e eu acabaria no chão cheia de arranhões...
o nome ficou escolhido em dois minutos, o "BISCUIT" começou naquele dia a ser o nosso gatinho preferido, igual ao Simba do "rei leão", passou a ser a paixão da nossa vida, talvez seja exagero para muitas pessoas, mas hoje, depois de 16 anos, não consigo descrever de outra maneira... apaixonei-me por uma gato, apaixonei-me pelo Biscuit, e passei a pensar nele como em qualquer outra pessoa.
a tentativa no ano anterior a receber o Biscuit de ter peixinhos, foi um desastre, lavei-os com sabão... até lavei atrás das orelhas... e obviamente não deu muito resultado... morreram, mas o Biscuit não se deixava enganar, odiava banho, e era super independente.
de noite, o meu pai e a minha irmão dormiam de porta fechada, talvez por convicção de que o gato não dorme na cama com os donos... o meu quarto era o escritório, estava na fase que achava que merecia um quarto só para mim, saiu-me o tiro pela colatra, eu não gosto de fechar a porta do meu quarto, nunca, ele ao ver uns pés a mexerem-se debaixo dos lençois, não é para menos, nem investigava o resto da casa, vai daí e até hoje quando volto para casa, ele dorme comigo, aquece os pés, mete-se dentro dos lençois e aquece-me a barriga, sai a meio da noite a mete a cabecinha ao lado da minha na minha grande almofada... está comigo... durante 16 anos eu seguia o seu ritual de vir ter comigo a arranjarmos juntos a melhor posição para adormecer...
durante 16 anos eu vi o Biscuit correr como um super-gato, miar só quando quer comida, ou mimo, chamar por mim quando vou tomar banho, esperar por mim á porta de casa quando me ouve no elevador, avisar-me que lhe falta comida, fazer-me companhia quando ficava sozinha em casa... ficar ao pé de mim quando chorava, brincar comigo quando me dava para lhe fazer cócegas, perder-se nos papéis dos presentes do natal, ficar á espera de um pedacinho de comida nossa vinda do alto da mesa... comia tudo, era louco por batatas fritas de pacote, e pápa cerelac... enfim... tantas coisas que eu vi este gato fazer, viver e quase sentir... viveu terramotos, incêndios, viagens de avião intercontinentais, passar a falar português em vez de inglês, caiu uma vez do 3º andar e partiu o osso mais pequenino do corpo (no calcanhar), voar de uma cadeira para outra mesmo com a perninha engessada... sei lá...
é dificil pensar na minha vida sem ele... até cheguei a achar que iria ser dificil não o ter a viver comigo sempre... em Milão ainda pensei nisso, "trago-o para cá", mas de repente apercebi-me que os meus pais e a minha mana, por mais que dissessem que ele me adorava, adoravam-no tanto que nunca deixariam que eu levasse para longe. em Antuérpia o A.T. quis comprar um gatinho, pensou no nome e tudo, eu respondi "não consigo substituir o Biscuit" é impossível.
a verdade é que já presentia que ele não estaria connosco por muito mais tempo... disseram na loja que ele vivia entre os 15 e 18 anos... na altura tinha a certeza que até os meus netos o iam conhecer... mas afinal a vida não é assim tão segura, aliás uma das poucas garantias que pude ter na vida, é talvez essa mesmo de saber que o Biscuit iria sempre estar ali... comigo, connosco... pelo menos com eles em Lisboa... eu tinha inveja que o vejam todos os dias, tenho pena...
no natal apercebemo-nos que estava doente... não comia, simplesmente não comia... como sempre comeu por ele e por outros 3 não percebiamos. levei-o ao veterinário, por nos conhecer desde pequeninas, não me quis dizer logo que isto seria o fim... insuficiência renal.
caramba, fiquei tão mal, como se fosse acontecido a mim, perguntei-lhe se tinha que tomar alguma decisão drástica, não quero que ele sofra mas também não quero abdicar dos seus ùltimos dias... tratei dele com todo o amor possível, fiz questão que todos lá em casa soubessem como fazer com as injecções, com os medicamentos, com a comida... mas eu sabia que no dia em que me fosse embora, seria muito provavelmente a última vez que o iria ver... ele estava bem, começou a reagir, esteve comigo até ao dia do embarque... e eu despedi-me, pedi-lhe para esperar por mim em maio... eu queria vê-lo mais uma vez... foi nessa ultima noite que eu percebi o quanto é estranho e ao mesmo tempo tão normal achar que um gato nos possa deixar tão triste, tão desesperados, tão sem reacção...
todos os sábados, dia de ir ao veterinário, eu peço aoo meu pai que me diga o que lhe fizeram... cada telefonema é uma dor... não choro, simplesmente penso o quão estranho será se eu volto e ele já lá não está... não quero pensar nisso, não quero nem sequer imaginar...
mas a minha mãe ligou-me ontem... e disse "bicuka, ele tá tão quietinho, não come, não bebe, não se mexe... mas não tem dores" eu sei que ela está muito triste, eu sei que ela talvez note ainda mais a sua falta, porque ao longo destes ultimos anos sempre disse "mas ele também gosta imenso de mim"
o Biscuit gosta IMENSO de todos nós, cada um para coisas diferentes, faz companhia ao meu pai enquanto lê o jornal, á minha mãe quando fica na cama mais tempo de manhã, á minha irmã enquanto estuda e comigo... bem, eu acho que comigo ele fazia parte do meu dia inteiro. talvez ele tivesse outras coisas para dizer de cada um de nós, boas e más claro, acho que ainda hoje odeia que eu corra atrás dele ;)
... o A.T. tinha um cão desde pequenino, o Pluto, morreu quando ele estava a fazer ERASMUS aqui em Antuérpia... não sei por destino, ou maldição, mas presumo que o Biscuit não chega até maio... tem 15 anos e meio, no dia 12 de junho faria 16, não só de vida mas de vida connosco... tornou-se parte da família, tornou-se parte dos meus postais para casa, há sempre alguma coisa para ele, visitou o país de alto a baixo, e embora odiasse a viagem para o Algarve, o sol da varanda gigante, era o sitio preferido... ficava lá horas, adorava.
não sei porque te escrevo esta história, talvez para parar de chorar... ontem adormeci assim, fiquei tão triste de não poder fazer nada, parace exagero voar para casa e ao mesmo tempo é a única coisa que eu queria neste momento.
a minha mãe não o quer abater, claro, o veterinário garantiu-lhes que o Biscuit não terá dor... será talvez mais lento do que pensasse, mas ele aos poucos vai adormecendo e entrará em coma... a imagem de que alguém chegue a casa e o veja ali... silencioso, sem repsiração faz-me começar a fazer as malas... quero ir ter com ele, quero agradecer-lhe pelos mimos, pelo conforto de ter sempre por perto uma bola de pelo, quentinha e fofa.
...será que é errado sentir-me assim? achas que com a Gata Maria vais ficar igual? eu não sei... só sei que dói muito pensar nisto, o A.T. diz que é muito mlhor estar longe, não lidar com a angúsia de não saber o que vai acontecer, diz que se chora muito porque de qualquer maneira, faz parte de nós... mas eu vi o Biscuit ainda com muita vida... a se calhar entraria em pânico se o visse agora assim, a deicar-se andar lentamente e não poder fazer nada.
não sou capaz de esconder emoções... sei que passaria a maior parte do tempo preocupada com ele... e estou pouco preparada para que o telefone toque... e alguém me diga que o meu super-gato não pode voar nunca mais...
... mas ele é lindo não é?
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